Hoje, vemos uma nova migração silenciosa e preocupante: pesquisadores e profissionais recém-formados saindo das universidades direto para o aeroporto — ou nem isso — para trabalhar remotamente para empresas estrangeiras. Em troca, recebem salários em dólar, com liberdade contratual e benefícios impensáveis na realidade brasileira.
Em um mundo aberto e liberal, é natural que os talentos busquem as melhores oportunidades. O problema é que o Brasil simplesmente não consegue competir. Perde-se mão de obra qualificada sem oferecer qualquer resistência.
Quando se fala em educação, o Brasil é um caso de contrastes gritantes. É um dos países que mais investem em educação como proporção do PIB, abriga algumas das maiores empresas do setor no mundo, mas coleciona resultados pífios em avaliações internacionais como o PISA. Apesar disso, continua sendo um grande exportador de cérebros. E sim, tudo isso tem explicação.
O chamado “Custo Brasil” asfixia empregadores e empreendedores. Dificulta contratações, inviabiliza riscos e engessa o ambiente de negócios. Com isso, empurra nossos talentos direto para os braços de empresas globais. Plataformas internacionais de tecnologia chegam com propostas sedutoras: remuneração em dólar, flexibilidade de trabalho e contratos diretos, sem os entraves da nossa obsoleta CLT. Esses jovens sequer precisam sair do país — exportam sua força de trabalho digitalmente e recebem líquido, sem descontos, sem burocracia. Simplesmente não dá para competir.
Uma pesquisa global do Boston Consulting Group (BCG) mostrou que 55% dos profissionais de TI estariam dispostos a deixar seus países. Canadá e Estados Unidos lideram como destinos preferidos. A D4U USA Group, empresa que assessora imigração para profissionais, registrou um aumento de 152% em pedidos em 2021. E desses, 20% foram de profissionais de tecnologia.
Os salários iniciais para recém-formados em big techs podem chegar a US$ 5 mil. Técnicos em TI nos EUA ganham até US$ 70 mil por ano. Gerentes chegam a US$ 190 mil. Dados do Departamento de Estado dos EUA mostram que o Brasil já aparece entre os cinco países com mais solicitações de vistos profissionais — 5º lugar nos vistos EB1 e 4º nos EB2. Só entre 2019 e 2020, os vistos de trabalho para brasileiros aumentaram 36%.
Na área de pesquisa científica, o cenário não é diferente. Segundo levantamento do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), entre dois e três mil pesquisadores brasileiros atuam no exterior. E não são apenas EUA e Canadá que atraem nossos talentos: Suíça, Suécia, Irlanda, França, Dinamarca e outros países europeus também os acolhem.
Boa parte dessa debandada se deve às restrições orçamentárias das universidades e centros de pesquisa no Brasil. O país sofre com uma recessão prolongada, e sua cultura institucional impõe entraves para que empresas privadas invistam diretamente em pesquisa acadêmica — algo comum no exterior.
Cortes de verbas, carga tributária sufocante, baixa atratividade para investimentos em inovação, ausência de uma estratégia para retenção de talentos — tudo isso compõe a engrenagem que mantém o Brasil parado no tempo.
O que está em jogo não é apenas a fuga de cérebros, mas o nosso futuro. Inovação, pesquisa e desenvolvimento são motores do progresso. Sem isso, o Brasil continuará à margem da competitividade global. A pergunta que fica é: em qual século queremos permanecer?